Alguns jogos já foram tão exaustivamente falados e esmiuçados por matérias publicadas em revistas e internet que pouco sobra de detalhes a acrescentar sobre, especialmente quando se trata de jogos antigos que caíram no culto de uma legião de fãs irrecuperáveis e, ainda mais especialmente quando esse jogo se trata de The Legend of Zelda: Ocarina of Time, o então considerado melhor jogo de todos os tempos (sendo saudável ou não dizer isso).
É impossível falar de Ocarina of Time sem comentar o seu legado. Numa época que não existia o peso da atual The Game Awards para lisonjear grandes produções na indústria de games numa amplitude global, o “zeldinha da ocarina” levava o prêmio de melhor jogo do ano, maior realização extraordinária em engenharia de software, melhor música, melhores gráficos, inovação em jogabilidade e até o RPG do ano! (e nem RPG ele é considerado! ...brincadeiras à parte). Já se via suas capacidades na época e atualmente...bem, atualmente ele continua sendo reverenciado com a mesma pompa, vez em quando aparecendo como o melhor jogo de todos os tempos nas principais revistas gamer e, até então, mantendo a insuperável maior nota no Metacritic.
Estamos falando de um ícone no
universo gamer que influenciou as próximas gerações, expandiu o ecossistema de
mundo aberto 3D, inovou em mecânicas e se tornou inesquecível para aqueles que
conseguiram desbravar o mundo de Hyrule. É realmente possível criticar algo
que, de acordo com a revista Game Informer, carrega o título de “intocável”?
É sim (risos nervosos).
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A comparação de Ocarina of Time do Nintendo 64 para o 3DS |
...mas, comecemos primeiramente falando sobre o enredo. Estamos em Hyrule, o cenário onde ocorre a maioria dos jogos da franquia. A fada Navi desperta nosso herói, Link, até então uma criança, de um pesadelo no qual ele testemunha um cavaleiro de armadura negra perseguindo uma jovem princesa. O garoto, que até então era o único de seu vilarejo a não possuir uma fada como companheira, é encaminhado até a grande árvore Deku (nome infeliz, mas recorrente no universo de The Legend of Zelda) que lhe conta sobre o homem perverso vindo do deserto com planos de dominar o mundo. Após um teste (a primeira masmorra é a própria árvore), Link é encaminhado até o Castelo de Hyrule, onde se encontra com a princesa Zelda e recebe, de cara, a missão épica e impossível para uma criança concretizar de recuperar três pedras espirituais para que ela possa entrar no Reino Sagrado e reivindicar a Triforce antes que o vilão, Ganondorf, faça.
A Triforce é um dos elementos mais importantes e significativos na mitologia de The Legend of Zelda, sendo retratada em todos os jogos da franquia principal como a energia que moldou e mantém o mundo, gerada através de três elementos: o poder, a sabedoria e a coragem. O conceito da Triforce é o responsável por interligar Ocarina of Time a todo o resto de jogos da franquia, sendo a “magia” responsável pela reencarnação desses três elementos nas figuras de Ganondorf (poder), Zelda (sabedoria) e Link (coragem). The Legend of Zelda: Ocarina of Time e seu vínculo com a viagem no tempo é o estopim para a invenção do multiverso que circunda a franquia (criando duas linhas do tempo, uma onde Link é bem-sucedido e outra onde ele fracassa).
Durante essa primeira parte da aventura, ao tentar reunir as pedras sagradas (isso me lembra muito a caça aos pendões em A link to the past), coincidentemente, Link conhece personagens que, embora ainda não saibamos, serão cruciais para a narrativa futura.
Infelizmente, Ganondorf fica sabendo de todo o plano e, assim como ocorreu nos pesadelos de Link, o vilão sequestra a princesa que nada mais pode fazer a não ser dar um jeito para que Link encontre a famosa ocarina do tempo. É somente em posse deste artefato e das pedras sagradas que o nosso herói pode visitar o Templo do Tempo e lá, junto com a espada mestra (Master Sword) viajar sete anos para um futuro em ruínas e a mercê das vontades de Ganondorf.
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A fatídica luta final contra Ganondorf |
Nesta etapa do jogo, imagino que o jogador da época deva ter sofrido uma agradável surpresa ao perceber que, a partir dali, controlaríamos um Link adulto, (capaz de disparar o arco e flecha, importante dizer), mais alto e mais forte. Então, sabe aqueles personagens importantes que Link conheceu quando criança? Nessa jornada na Hyrule em ruínas, descobrimos a lenda que acerca sete sábios que, em conjunto, têm poder suficiente para selar Ganondorf e trazer paz de novo ao mundo... infelizmente, nem todos esses personagens sabem de suas capacidades e é aí que a jornada ganha uma dimensão estratosférica, exigindo que o jogador viaje entre as linhas de tempo para usar das vantagens que cada uma de suas formas (criança e adulto) possui... e, pode crer, jogador, há muito o que ser explorado em Hyrule.
Em Ocarina of Time o jogador enfrenta masmorras, que ficam cada vez mais labirínticas, decifrando enigmas e resolvendo quebra-cabeças cada vez mais complexos a fim de despertar os sábios de Hyrule e dar um fim ao domínio de Ganondorf. Cada masmorra é um ecossistema diferente e guarda um artefato que funciona ativamente em todo o imenso mundo (na época o tamanho surpreendia, atualmente, já foi superado em quilômetros). Munido de arco, gancho de escalada, botas de metal, bombas e estilingue, Link tem um mundo a explorar e segredos a descobrir.
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A ocarina é o artefato que permite não só a viagem no tempo, mas também invoca outros poderes. Existem 13 canções que podem ser tocadas na ocarina (a maioria são obrigatórias para a main quest) |
Então, envelheceu bem?
The Legend of Zelda: Ocarina of Time é um game que sofre pouco com a idade (em comparação a muitos outros jogos) em relação à jogabilidade. Seus gráficos, obviamente, envelheceram, já que se trata de um game de um console 64-bits (a versão que eu zerei, entretanto, é a do 3DS que, incrivelmente, melhora os gráficos e a experiência dramaticamente, recomendo (!)).
Acredito que o maior desafio para alguns jogadores desta geração é a quantidade de vezes que estes se verão perdidos (eu me coloco nesta massa), tentando encontrar o caminho certo (a masmorra da água é realmente um porre), o que pode gerar uma certa frustração para aqueles que (sem pecado) preferem o caminho traçado no mapa, a fim de dar continuidade à ação, ao invés de perder horas quebrando a cabeça. Eu me perdi inúmeras vezes e, confesso, em alguns episódios, apelei para detonados na internet (coisa que não é muito diferente da maioria dos jogadores da época com suas revistas Nintendo World).
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Fico pensando em como seria jogar Ocarina of Time na época e ser bombardeado pela revelação após cena. |
Muitas vezes eu me vi confuso, pensando em como iria conseguir determinado item (o troca-troca de máscaras com NPCs é algo realmente difícil de prever) ou encontrar pelo menos mais uma heart piece. Isso parece típico de uma geração cujos jogos de procura-e-acha passaram a ser dominantes (na mesma época temos o próprio Mario 64 e o clássico Banjo & Kazooie), mas que hoje não cabe mais a um público fadado a poucas horas de jogatina diárias e a quantidade absurda de jogos sendo lançados cotidianamente.
Afinal, Ocarina of Time é TUDO ISSO que falam mesmo?
Levando em conta o tamanho do baque que esse game proporcionou em sua época de lançamento (1998, e sempre será preciso levar em consideração o legado que um produto deixa para seus sucessores), comparando ao fato deste ainda ser relevante, comentado e jogado, é impossível não considerar The Legend of Zelda: Ocarina of Time um ícone.
Ele, de fato, é tão amado porque definitivamente É um bom jogo, independentemente do termo nostalgia. Particularmente, não tive acesso ao mesmo na época em que foi lançado e, como apreciador de videogames, me vi na necessidade de experimentá-lo um tanto recentemente (zerei em 2022). Fiz isso na versão de 3DS, remasterizada e numa tela menor e, ainda assim, me vi encantado sabendo que estava jogando algo realmente grande que imprimiria na minha mente a vontade de desbravar mais jogos da série (e, desde então, tento zerar pelo menos um jogo da franquia no ano).
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Zelda preparada para colocar Link em apuros... seja qual linha do tempo for. |
Acredito que a Nintendo tentou trazer à tona de volta essa mesma “sensação do épico” conquistada em Ocarina of time ao lançar Breath of Wild e, milagrosamente, conseguiu. Ouviremos falar de The Legend of Zelda: Breath of Wild por muitos e muitos anos... e merecidamente (recentemente este foi eleito o melhor jogo da história pela GQ Magazine), assim como The Legend of Zelda: Ocarina of Time (merecidamente) vêm chamando a atenção de jogadores de todas as eras e nichos.
Nota pessoal: 10/10
Duração: 27h+
% Repeteco: 75%
% Recomendação: 95%
Originalidade: lendário
Público: quem curte jogos de mundo aberto; apreciadores da história dos videogames (obrigatório); quem gosta de jogos repletos de conteúdo.