Eu, beirando aos quarenta anos, quando me recordo da infância, lembro-me de sentar-se no chão frio e estranhamente confortável de casa com um controle de Super Nintendo nas mãos (com um cabo longuíssimo) e uma TV de 14” chuviscada. Soprava o cartucho do console, engatilhava ele e apertava o botão power... então, aguardava o momento mágico para ouvir a primeira frase discernível que ouvi claramente (mesmo que em inglês) em um videogame (sim, nos consoles da geração 16bits, mal se produzia áudio falado, pois consumia boa parte da restrita memória do jogo) e esta frase, eu tenho certeza, que muitos jogadores da época ainda se recordam claramente em bom som e tom:
“The last metroid is in captivity. The galaxy is at peace”
Super Metroid imergiu muita criança numa experiência fora da bolha lúdica dos jogos coloridos de sucesso da época (Mario vs. Sonic). A gente controlava uma personagem obscura em sua armadura avançada tecnologicamente, em um ambiente sombrio e alienígena, dominado por criaturas aterrorizantes e ao som de uma música de fundo grave e cavernosa. Tudo poderia acontecer dali em diante... então, prosseguíamos pela caverna escura com uma arma de plasma no lugar de um braço até encontrarmos um tipo de... pterodáctilo alienígena. Nosso inimigo, muito maior que os pequenos vermes que havíamos enfrentado há pouco e, após uma luta frenética, soa o som agudo de um alarme e uma contagem regressiva (!). Tudo vai explodir e temos que voltar nosso caminho o mais rápido possível.
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Estátuas Chozo distribuem power ups pelo jogo. |
Este início nos mostraria adequadamente o que este jogo, criador de um gênero, havia idealizado para influenciar um montante de jogos que receberia, no futuro, o título de metroidvania.
Desde seu primeiro título lançado em 1986 no NES, Metroid foi desenvolvido para juntar elementos de plataforma (como os vistos em Super Mario Bros.) aos de exploração (encontrados em The Legend of Zelda), formando um jogo de rolagem 2D, num mundo de exploração contínua onde o jogador deve retornar a pontos antigos, possivelmente, várias vezes e sua curiosidade seria recompensada com uma inúmero quantidade de power ups espalhados secretamente por um mapa que deve ser constantemente acessado para evitar ficar perdido.
Recordo-me como o jogo parecia longo (embora, realmente, não o seja) e denso e na sensação de poder ao adquirir as power bombs (bombas que preenchiam a tela toda quando explodia), o speed booster (após correr um curto período de tempo, Samus ficava excepcionalmente veloz e era capaz de quebrar obstáculos no meio do caminho) e o screw attack (outro power up que consiste em saltos giratórios que emanam energia e são capazes de ferir inimigos, quebrar obstáculos e alcançar grandes alturas através de saltos múltiplos).
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Ridley, o líder dos Space Troopers |
A criação de Metroid foi claramente influenciada pela série de filmes Alien: O oitavo passageiro, inclusive trazendo uma personagem feminina como protagonista (na época do primeiro Metroid, foi uma surpresa para geral, após a finalização do game, ao se despir da armadura, o protagonista revelar-se mulher).
Super Metroid foi um jogo que destrinchei na infância e retomei sua jogatina no início de 2024 para resgatar suas memórias e decidir se o jogo continua palpável... e me vi encantado com as curiosas poucas horas que passei (divididas em dois dias) ao visitar novamente o planeta Zebes e declarar que este continua sendo um jogão da porra. Apesar de sua jogabilidade ter ficado um pouco truncada (peguei Super Metroid pouco tempo depois de zerar Metroid Dread e é totalmente notável a evolução da jogabilidade em termos de fluidez), o próprio jogo torna essa movimentação normalizada, pouco influenciando na experiência total da jogatina.
Como na época eu não dominava inglês, pouco sabia sobre a história da série e tive o prazer de destrinchar ela contemporaneamente. Eu fiquei realmente chocado quando descobri que Ridley e Kraid, dois dos chefões do jogo, são mais do que meramente criaturas monstruosas (Ridley, por exemplo, é um extraterrestre dracônico que é líder das tropas dos Space Pirates e foi o antagonista responsável por matar os pais de Samus Aran).
E finalmente descobri o que eram aquelas estranhas estátuas de pássaro que guardavam os power ups espalhados pelo mapa: monumentos da antiga civilização Chozo, que são uma espécie de raça de homens-pássaros evoluídos responsável pelo treinamento de mercenária da própria Samus (isso fica bem mais aparente em Metroid Dread).
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Alguns cenários exigem trajes especiais adaptados para calor, água e frio. |
Super Metroid é tudo o que a franquia estabilizou. Sua base é formada na exploração de um mapa 2D, com áreas que precisam ser revisitadas e liberadas através do ganho de power ups. Cada região possui um mini-boss e um boss, além da existência dos metroids, um tipo de água viva de composição transparente que é capaz de drenar a vida de tudo que toca. Na história devemos deter Mother Brain (o “cérebro mãe”) que pretende usar os metroids para conquistar o espaço... e o seu fim é louvável para uma vilã desgraçada (a dificuldade na hora de enfrentar Mother Brain vai reduzir bastante caso o jogador tenha paciência e se assegure de coletar o maior número de supermísseis possíveis).
Devido ao seu curto tempo de jogo (em torno de 6 horas... sério, isso parecia uma eternidade na infância, mas acredito que é porque na época tudo era mais difícil de executar; além disso, essa quantidade de tempo pode variar muito se você pretende pegar o máximo de power ups possíveis) e à proeza de realizar um jogo fechadinho com um fator replay bem positivo, tenho certeza que Super Metroid será um jogo que retomarei várias e várias vezes. Metroid é outra saga de jogos que pretendo pegar pelo menos um título por ano para jogar (ou rejogar) e é um pedido obrigatório para qualquer fã de metroidvania.
Nota pessoal: 8/10
Duração: 6h+
% Repeteco: 90%
% Recomendação: 90%
Originalidade: comum
Público: quem curte metroidvania; jogos com ecossistemas sombrios; plataforma de ação.