Um Indie: Hollow Knight

 

 
Eu me vejo em Hollow Knight.

                Nos primeiros segundos de Hollow Knight temos o nosso protagonista, o cavaleiro vazio, solitário, observando distante a distinta Hollow Nest, poucas luzes em um poço de escuridão profundo. Em seguida, o controle do besouro apático é cedido ao jogador e este não tem outra escolha a não ser prosseguir, encontrar o caminho, seja por onde for, saltando entre plataformas e se acostumando com a mecânica rápida, para então chegar à única cidade do mundo, tão solitária e vazia quanto o próprio cavaleiro, assim como é e será todo o resto desse mundo.

Hollow Knight é um jogo sobre a solidão em todos os seus aspectos, tanto devido ao nosso herói passar a maior parte do tempo sozinho viajando por um ecossistema sombrio e isso ser uma escolha dele (nossa), quanto pela disposição de outros personagens igualmente solitários que evitam qualquer contato permanente, quanto pela impressão psicológica que o jogo causa ao jogador pela busca de significado.

Repare na quantidade de detalhes no cenário do jogo. Tudo colabora para a imersão.

Hollow Knight e o culto à solidão

                Como humanos, somos seres sociáveis, dependentes do envolvimento com outras pessoas para existir. Um indivíduo desamparado de existência é um terreno fértil para tristeza, depressão e o sentimento do vazio...

De forma conflitante, a solidão é um sentimento intrínseco à existência humana e projetar-se nela controladamente é a melhor oportunidade que um indivíduo tem para o autoconhecimento, a capacidade de se ouvir e entender as próprias necessidades e limitações, estimular a criatividade e evoluir como pessoa, enfim, contemplar a própria existência.

                Os psicólogos chamam isso de solitude, um caminho para entender a si mesmo e assim entender os outros. Solitude seria um estado de solidão aceito e contemplativo que quando bem administrado, o indivíduo tende a buscar significado na própria existência... e eu acho que é exatamente isso o que o cavaleiro vazio busca e se martiriza impiedosamente ao enfrentar os desafios de Hollow Nest, embora, de fato, não precise fazê-lo. 

Hollow Nest é gigante. O uso constante do mapa é obrigatório.

 

O ambiente do jogo é sombrio e silencioso. O próprio protagonista não emite discurso. Ele se senta em um dos bancos espalhados pelas ruínas de Hollow Nest e contemplando a solidão, ele salva seu progresso. Espelhado nessa superfície que é típica de qualquer outro habitante daquele mundo, o jogo dá vazão poética ao que realmente pode ser considerado, mesmo de forma abstrata, como o verdadeiro protagonista: o mundo em que o cavaleiro vazio pisa.

Repare na dimensão de detalhes em Hollow Knight. Note o quão pequeno o cavaleiro besouro é em comparação ao ecossistema. Por que simplesmente não aceitar a existir como todos os outros? Esta é a sensação deste ser ao se deparar com o que o mundo projetou para ele, ao sistema no qual ele foi ingressado e poucos, pouquíssimos, têm a disposição para se rebelar e quando o fazem precisam, através da dor e sua evolução catártica, enfrentar barreiras difíceis... cada vez mais difíceis.

                Assim, inconscientemente, o jogador progride e passa a existir para encarar o próximo desafio, mergulhado nesse vazio que precisa ser preenchido com... existência (!). Isto é Hollow Knight, um jogo indie de proporções megalomaníacas, capaz de furar a bolha do gênero e trazer para aqueles que, por influência do mundo, são incapazes de ver na simplicidade que um jogo 2D de plataforma traz, a capacidade de enxergar muito além do que a beleza superficial de gráficos super-realistas proporciona.

Para mim, não existe adjetivo melhor para este do que inesquecível.

 

Esta é, de longe, o combate mais bonito deste jogo e de vários.

Nota pessoal: 10/10
Duração: 27h+
% Repeteco: 95%  
% Recomendação: 100%
Originalidade: rara
Público: quem curte desafios extremos; obrigatório no território indie; quem busca imersão completa em um jogo

 


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