Eu gosto bastante da ideia de remasters (obviamente, desde que tenha idade o suficiente para ser necessário um), é importante que a nova geração tenha a oportunidade de conhecer os jogos que inspiraram aqueles que estes jogam hoje em dia. Grim Fandango é um deles. Produzido pela finada Lucas Arts, o jogo, apesar de não ter sido um grande sucesso, tornou-se um clássico eternizado por aqueles que realmente deram chances à pitoresca aventura de Manny Calaveira e hoje em dia é considerado um “clássico cult”.
Por isso, apesar de ter me surpreendido com a aparição repentina desse remaster, realmente não me surpreende que ele tenha sido trazido de volta à superfície nesses tempos mais contemporâneos.
Eu me lembro de ter adquirido esse jogo através de uma demo que vinha junto das revistas de PC Gamers vendidas antigamente (conheci muitos 10% de jogos me frustrando com essas demos) e de ter, finalmente, zerado ele inteiramente anos depois com a pirataria. O mais impressionante, na época, é o fato deste estar completamente dublado para o português do Brasil com um sotaque mexicano cômico que dá razão à temática do jogo.
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O designer escolhido para Grim Fandango é o que há de mais estranhamente inesquecível do jogo. |
Baseado no folclore asteca, a temática do jogo carrega a influência do Dia de Los Muertos, o culto à morte que era comum em culturas pré-hispânicas (tipo aquele filme “Viva, a vida é uma festa” da Disney) misturado à elementos noir (como aqueles filmes antigos de máfia, preto e branco, com homens de chapéu, paletó e cigarros). O título significa fandango (um tipo de dança hispânica) sombrio e nos é apresentado através de um poema que cabe perfeitamente de forma abstrata aos elementos do jogo:
“Com mãos ósseas, seguro meu parceiro,
em pés sem alma, cruzamos o salão,
a música para, como se respondesse,
uma batida vazia na porta.
Parece que sua pele era doce como manga,
quando o abracei pela última vez,
mas agora, dançamos este fandango sombrio,
e serão quatro anos até que descansemos.”
Na pele de Manuel Calaveira, ou simplesmente Manny, um expressivo e soturno esqueleto que é agente de viagens da Terra dos Mortos, o lugar onde todo mundo deve passar para chegar ao nono submundo, lugar de repouso eterno. Seu trabalho é vender pacotes de viagem para esse destino e o meio de transporte depende do merecimento que a vítima conquistou em vida. As opções são: carro esportivo, um cruzeiro, trem (a viagem mais rápida, que dura 4 minutos) ou uma infeliz bengala da marca Excelsior que vem com uma bússola adaptada para auxiliar numa viagem de quatro anos a pé direto para a Terra dos Mortos.
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O trabalho burocrático de ser a morte |
O trabalho de Manny funciona como um tipo de serviço comunitário obrigatório e cada alma que ele garante a viagem conta positivamente para que ele mesmo consiga alcançar o nono submundo. Basicamente ele se fantasia da própria morte e aparece diante a alma perdida em sua recém-morte para explicar a burocracia da viagem.
Cansado de ter que lidar com almas pouco valiosas, Manny dá um jeito de surrupiar a alma de uma santa em vida de um colega chamado Domino, porém, para sua surpresa, a única oferta de viagem garantida para ela é a bengala Excelsior. Nosso protagonista, então, começa a desconfiar de um esquema de corrupção envolvendo sua agência e isso dá início a uma jornada cheia de elementos fantasiosos, noir e muitas situações de transtorno cômico.
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O jogo está repleto de diálogos engraçados e situações imprevisíveis |
Grim Fandango é uma joia rara, um tipo de jogo que vale a pena jogar só pelos diálogos (cada comentário é uma surpresa infalível). Originalmente, o jogo era um point click de investigação (muito similar à Full Throttle) e foi bem adaptado para os videogames, afinal, sua jogabilidade é incrivelmente simples, feita de tentativas e escolhas.
Como jogador, sua função é conversar com vários personagens memoráveis e coletar itens que serão utilizados posteriormente de forma criativa (e bizarra!) e investigar uma rede de intrigas envolvendo a burocracia da morte. É um jogo que não oferece dificuldade mecânica, mas que requer atenção e dedução para solucionar mistérios e puzzles, por isso, vá preparado para um estilo de jogo mais parado em que você precisa focar a atenção em pequenos detalhes.
Nota pessoal: 9/10
Duração: 12h+
% Repeteco: 75%
% Recomendação: 80%
Originalidade: rara
Público: quem curte focar numa história cheia de pontos altos; quem gosta de filmes noir e investigação; quem deseja encontrar algo realmente diferente para jogar.