Em meados dos anos 2000, um gênero de jogos cai curiosamente no gosto do público gamer de PC. RTS (Real-time Strategy) é um gênero de jogos que envolve a gestão de recursos, construção de bases, desenvolvimento de tecnologia e controle de unidades. O player meio que precisa organizar um montante de indivíduos para colher recursos, construir edifícios, criar unidades e derrotar a base do oponente. Assim nasceu jogos como Age of Empires, Starcraft e Warcraft.
...mas em meio à gama de jogos que existiam (francamente, agora me lembro de ter dado chances para muitos jogos desse tipo, como Caesar 3, Pharaoh e Knights and Merchants) um deles chamou a minha atenção e a dos meus amigos fascinados em fantasia, RPG e mitologia: Age of Mythology.
Ao
começar o jogo, você tem a grande decisão de escolher a civilização que você
controlará: gregos, egípcios, nórdicos ou atlantes. Cada uma dessas possui
mecânicas diferenciadas que influenciarão a jogabilidade, por exemplo, egípcios
adquirem fé através da criação de monumentos aos deuses enquanto gregos
precisam separar alguns indivíduos para orar em seus templos. Gregos são capazes
mantícoras e medusas, enquanto nórdicas invocam trolls e gigantes.
E foi com essa vontade de resgatar esses bons tempos de cliques em mouses que me empolguei ao ver o anúncio de Age of Mythology Retold no Gamepass, já que pouco me lembrava de sua campanha.
Rememorei especificamente a aventura de Arkantos, o herói de atlante, inicialmente protegendo suas terras contra o ataque de piratas liderados pelo minotauro Kamos para, em seguida, descobrir que este era apenas mais um comandante do poderoso exército de Gargarensis, um ciclope senhor da guerra que está tentando arrombar uma grande porta no submundo e, assim tornando-se inimigo de todas as civilizações encontradas no jogo.
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O jogo inicia com uma invasão pirata e termina derrotando um deus. Épico, como toda mitologia há de ser. |
No modo campanha, o jogador terá de se adaptar com a mecânica de cada civilização, começando com a grega, passando para a egípcia, depois a nórdica e, finalmente, retornando para a atlante, onde o embate final ocorrerá. Assim, Arkantos é recrutado para auxiliar outros povos que estão sendo visados por Gargarensis e, através de suas vitórias, conseguindo importantes aliados para a derradeira luta.
As fases mais longas são compostas por vastas planícies, mares e montanhas, onde o jogador deve encontrar matéria-prima (ouro, madeira, pedra e comida) para fundar um povoado e recrutar um exército que funde guerreiros, arqueiros, cavaleiros e balistas à existência de criaturas mitológicas e poderes divinos capazes de invocar um enxame de serpentes, fazer despencar uma chuva de relâmpagos do céu ou um terremoto poderoso capaz de abalar os alicerces das mais poderosas construções. Por vezes, o jogador começará do zero, sob circunstâncias cada vez mais desvantajosas, a fim de alcançar poder em número e estratégia suficientes para invadir a base vizinha e destruir o centro da civilização.
O jogo, entretanto, divide a estratégia real com momentos que nos vinculam à mitologia, como quando somos jogados na ilha de Circe e somos automaticamente transformados em porcos (que são a base alimentar dos habitantes da ilha) ou quando atravessamos o portal para o inferno e devemos caçar relíquias perdidas dos deuses, para que possamos encontrar uma saída ou ainda quando participamos da invasão dentro do próprio cavalo de Tróia. Obviamente, tratando-se de fantasia, Age of Mythology Retold não se importa em nada mais do que apenas a base ao construir a história da campanha e decidir que alianças são formadas e os resultados finais destas.
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Talvez uma das partes mais empolgantes do jogo é a capacidade de invocar criaturas mitológicas para o combate. Cada uma com seu sacrifício e preço. |
A adaptação desse clássico para os videogames é caprichada e a jogabilidade, confesso, um pouco confusa (apenas com muitas horas de jogo para se adaptar à determinados comandos, especialmente quando esses precisam ser rápidos, como a seleção de unidades e o comando para que elas se afastem ou invistam contra o inimigo). Os analógicos de um controle não conseguem substituir o deslizar de um mouse, porém, isso não deve ser problema para um jogador que entende que essas limitações são obrigatórias, além disso, no geral, o jogo responde bem ao decorrer da campanha e raras serão as vezes que o jogador irá reclamar da falta de inteligência artificial das unidades (a não ser que seja algum bem desorganizado).
O fato de estar totalmente em português brasileiro contribui bastante para o entendimento da jogatina, já que Age of Mythology necessita do constante estudo do jogador ao analisar as diversas informações jogadas na tela e precisará dominá-las cada vez mais rápido, especialmente nas fases finais (análises como determinar se haverá tempo para avançar a era da sua civilização e receber os benefícios tecnológicos disso ou se melhor seria atacar ou defender suas fronteiras contra um inimigo que envia constantes ataques pequenos que vão ficam mais massivos a cada dez minutos de jogo).
Age of Mythology Retold é um jogo que possui um público resolvido, que permite se engajar em jogatinas mais complexas e burocráticas, requerendo administração de números e criatividade para se adaptar a fases que podem mudar completamente do último cenário enfrentado. Determinado isso, é uma experiência fora da caixinha (assim como julgo que é qualquer RTS) que enriquece o jogador com um novo tipo de experiência.
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O embate final da antiga DLC (já adicionada ao remaster) entre Gaia e Kronos, pisoteando todo exército que ousa se aproximar. |
Nota pessoal: 8/10
Duração: 24h+
% Repeteco: 50%
% Recomendação: 50%
Originalidade: comum
Público: talvez um dos jogos RTS mais empolgantes de uma era; quem curte história e mitologia; quem gosta de complexidade burocrática e estratégia de guerra.