Um Indie: Jusant

 


                No controle de um garoto, Jusant inicia sua jornada caminhando num deserto em direção a uma imensa torre. Aos poucos, o cenário desértico nos apresenta elementos intrigantes, ruínas, plantas aquáticas e embarcações naufragadas, denunciando que aquele mundo, um dia, era um oceano abundante e a areia seca o fundo de um mar agora inexistente.

Não há um prelúdio para essa tragédia, apenas o caminho a seguir, direto para uma torre cravada no meio do nada. Decidido, o menino olha para um ponto da torre onde pode ver um farol e chegar até ele é o nosso primeiro objetivo. Daí em diante nosso mundo se transforma inteiramente vertical e cada obstáculo precisa ser escalado com a ajuda de uma corda, disposição e principalmente muita calma.

Este é Jusant, um jogo para você apreciar a vista, um jogo cuja única mecânica é escalar e, para isso, você não conta com um personagem apto a realizar saltos acrobáticos irreais ou com sistemas para quicar em paredes e esticar chicotes impulsionadores. Imagine um rapel. Para essa atividade você usa cordas e equipamentos adequados para a subida e descida de paredões, usando ganchos e pitões para se assegurar que não vai cair em queda livre.

O caminho para o próximo passo de Jusant é sempre visível. O quebra-cabeça estar em como chegar lá.

Jusant tem uma mecânica interessante envolvendo os botões RT e LT do controle. A escalada é comandada por esses gatilhos, onde RT comanda sua mão direita e LT a esquerda e você deve estudar seu próximo movimento para garantir maior alcance e habilidade na hora da escalada.

                Apesar de sabermos que, no final das contas, a missão é chegar no topo da torre, o jogo nos prende em um problema pontual, instigando o jogador a se concentrar na próxima pedra a ser alcançada, por isso, seu estilo é metódico, passo após passo, carregando o receio de cair e ter que escalar um trecho todo de novo.

Apesar disso, acho que dificilmente o jogador vai se sentir instigado a desistir. O designer de Jusant é encantador e provoca uma calmaria capaz de tornar a escalada uma missão relaxante. No decorrer da subida, encontramos vestígios de pessoas que também tentaram escalar a torre. São ferramentas, oficinas abandonadas, veículos desmantelados, anotações e cartas (os colecionáveis do jogo).

Ao ler essas anotações, o jogador se depara com o sentimento de outros escaladores, o medo, a ansiedade, o senso de obrigação e a saudade de casa para assim, de forma genial, moldar aquilo que sentimos ao dar continuidade em nossa jornada.

                É ao chegar no farol onde descobrimos mais um elemento importante. Nosso protagonista carrega consigo uma criaturinha azul estranha e frágil, mas que, após o soar de trombetas espalhadas no final de cada fase do jogo, é capaz de restaurar a vida no local, trazendo à tona o meio-ambiente e a cor vívida no cenário.

Ao tocar essas trombetas espalhadas pela torre, essa criaturinha restaura a vida de uma região aos poucos.

Ficamos sabendo, então, que vários tentaram alcançar o topo na promessa de encontrar fontes de água, elemento que claramente está em falta neste mundo pós-apocalíptico e, talvez, o menino que ajudamos à escalar junto a essa criaturinha seja a esperança de muitos.

                Jusant é mais um jogo indie que se empenha em nos maravilhar com sua existência, seja visualmente ou poeticamente mesmo sem ter uma linha de diálogo (já comentei em outros posts o quanto me impressiono com a profundidade artística que alguns jogos indies têm). Este é um jogo que mostra ter uma personalidade ímpar e dificilmente você, como jogador, vai passar por uma experiência tão curta e, ao mesmo tempo, tão marcante. Ele não possui confrontos ou encontros a não ser com a própria torre e seus obstáculos e, apesar de se resumir a isso, é mais do que suficiente.

Ao se sentar em frente à tela e começar a jogá-lo, não se esqueça de contemplar tudo o que esse jogo proporciona. Olhe para cima e se amedronte com o desafio da altura e em seguida olhe para baixo e se permita maravilhar com a conquista de ter alcançado patamares tão altos.

                No topo da montanha, vislumbrando o final tocante e sendo arrebatado pela trilha sonora relaxante, não deixe de pensar num retrospecto de tudo que você encarou para chegar até ali.

O cenário movimentado de névoa, chuva, vegetação e ruínas de uma civilização de outrora.

 Nota pessoal: 9/10
Duração: 6h+
% Repeteco: 90%  
% Recomendação: 90%
Originalidade: rara
Público: quem deseja um jogo relaxante com final emocionante e choroso; quem busca alguma mecânica nova para se adaptar; apreciadores de arte designers perfeitos.

 

 

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