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Um clássico zerado: Secret of Mana

 


                Era um dia qualquer quando um trio de amigos caminhava pela floresta ao redor do vilarejo de Potos, porém, este seria o dia em que o destino de Randi, um garoto corajoso e aventureiro adotado pelo ancião da localidade, conheceria mais sobre seu destino heroico. Durante o passeio, Randi escorrega de uma ponte diretamente para um vale afastado, habitado por criaturas selvagens. Sem muita escolha, ele decide vagar rumo a seu lar novamente quando é surpreendido por uma voz misteriosa que o encaminha até o centro de um lago.

                Tal qual a lenda de Rei Arthur, Randi retira a espada de uma pedra no meio do lago e se impressiona com sua qualidade. Com a ajuda desta consegue chegar ao vilarejo de Potos novamente, entretanto, seu destino havia sido selado e, logo, uma poderosa criatura ataca seu lar. Corajosamente, nosso herói detém o monstro usando a espada do lago e supera as expectativas de todos os moradores. Uma reunião é formada após o evento e a cidade inteira, curiosamente, vota pelo exílio do pobre garoto.


                Randi tem em mãos a espada de Mana, um poderoso (porém enfraquecido) artefato que é capaz de carregar o poder responsável por selar o mal do mundo e seu portador leva consigo a trágica missão de recuperar essa energia. Para deter seu destino, criaturas abomináveis serão constantes em seu caminho e permanecer no pequeno vilarejo já não é a escolha mais sábia.

                Neste mundo tudo é regido por uma força denominada Mana. É ela que mantém a vida e a harmonia em tudo, criada e manipulada pelos deuses. Antigamente, porém, uma civilização tecnologicamente avançada explorou negativamente o poder da mana e o usou para construir a Fortaleza de Mana, nada mais, nada menos, que uma espécie de nave de guerra que tinha o intuito de dominar o mundo. Enraivecidos pela audácia, os deuses invocaram bestas gigantes para destruir a humanidade e assim uma guerra globalmente destrutiva iniciou-se a fim de dar um fim à humanidade

                Perto do fim, entretanto, os deuses tiveram piedade e optaram por conceder uma nova chance aos humanos. Depositaram a mana em oito sementes sagradas e as plantaram no mundo para que um dia estas pudessem brotar e um destinado pudesse exercer seu poder.

                Ao mesmo tempo em que Randi começa sua jornada, um novo império maligno acaba descobrindo sobre a existência dessas sementes que, quando seladas, garantem o poder de restaurar a Fortaleza de Mana novamente... somente a espada lendária pode deter esses malfeitores... e assim, uma aventura épica se destrincha trazendo consigo uma das melhores experiências em jogos retrô que se pode encontrar até hoje. Isto é Secret of Mana.

Gráficos pixelados sempre têm um charme

 

                Secret of Mana é o terceiro jogo da série Mana e foi lançado para o Super Nintendo. A saga original se chama Seiken Densetsu e seu primeiro título foi trazido para o ocidente com o nome “Final Fantasy Adventure”, apenas para surfar na onda do sucesso da outra franquia. Secret of Mana ou Seiken Densetsu 3, surpreendentemente, alcançou números expressivos em vendas e obteve um êxito inesperado que acabou impulsionando a criação de uma continuação (o também bem-sucedido Legend of Mana, lançado para o Playstation) e, consequentemente, de uma franquia duradoura e sobrevivente até os dias de hoje.

                Originalmente criado para ser lançado no inexistente Nintendo Playstation, Secret of Mana passou por reformulações trágicas e cerca de 40% do jogo foi cortado após o desentendimento entre a Nintendo e a Playstation (fatos históricos). Ainda que a Square Soft tenha se sentido impactada (o que culminou num longo afastamento dos projetos em parceria com a Nintendo), Secret of Mana foi um marco no Super Nintendo e diversas vezes é cogitado com um dos 20 melhores jogos da plataforma por sites especializados.

                Na trama, Rand precisa encontrar as oito sementes de mana para fortalecer sua espada e enfrentar Thanatos, um vilão tirânico que pretende usar a mana para conquistar o mundo. Durante a jornada, o herói se alia à Primm, uma garota em busca de vingança pela morte de seu namorado nas mãos de Thanatos, e Popoi, um tipo de gnomo adotado pelo povo anão e afetado pela perda de memória.

Os heróis, respectivamente, Primm, Randi e Popoi

O jogo trazia algumas inovações inesperadas na época, apesar de não ter sido o único e nem o primeiro a usá-las. A primeira grande diferença em relação aos famosos clássicos de RPG de turno da Square Soft é o próprio sistema de combate que assume um tipo de “sistema de turno camuflado em uma jogabilidade ativa”. A barra de ATB (uma barra de tempo que precisa ser preenchida para que o personagem realize a ação) continua lá, porém, o personagem tem liberdade para se movimentar e até atacar mesmo enquanto esta não está repleta. Atacar antes que a barra esteja em 100% reduz o dano causado e consequentemente obriga o jogador a administrar o tempo até o próximo ataque.

Os chefões chegam a ser constantes, especialmente mais pra o final do jogo, e tendem a garantir um desafio acima do premeditado.

Durante a jornada, novas armas são encontradas e todas elas possuem características diferentes como, por exemplo, área de ataque, alcance de ataque, tipo de dano, velocidade de ataque etc. O uso constante das armas evolui sua perícia para um máximo de nível 9 e permite acesso a um sistema de combos ativado enquanto segura o botão de ação e aguarda a barra ATB preencher múltiplas vezes (como se o personagem estivesse se concentrando no ataque por mais tempo para aplicar um maior número de dano).

Existe também um sistema de magia que é bastante importante para o ritmo do jogo. Para ter acesso a magias precisamos libertar elementais. Alguns destes são encontrados no meio do caminho e outros estão escondidos na exploração do mundo. Assim como as armas, os elementais também aumentam de nível conforme mais o usamos e dá acesso a magias mais poderosas. Particularmente acho empolgante grindar para evoluir as magias e adquirir novas habilidades. As magias são bem variadas, elas vão desde a fatal explosão, magias de cura, aprimoramento de ataque e defesa e debuffs de status.

Um menu em anel para facilitar a rápida transição entre as escolhas de armas e magias

Todos os personagens são proficientes com todas as armas e magias, porém, administrar a escolha de quem vai usar o quê é essencial para garantir o fechamento do jogo. O jogador pode evoluir seu personagem até o nível 99 e, ainda assim, se não tiver evoluído suas magias e habilidades adequadamente, não vai conseguir finalizar. Com o tempo e a análise dos atributos de cada personagem acabamos entendendo que cada personagem do trio tem suas fortalezas ímpares.

                Uma outra inovação é a possibilidade de mais de um jogador simultâneo (até três jogadores simultâneos, se tivéssemos acesso ao multitap do Super Nintendo), cada jogador controlando um dos personagens do trio. Isto era bastante incomum em RPGs da Square, na verdade, até atualmente poucos jogos no estilo de Secret of Mana permitem jogadores simultâneos, tornando essa série um tanto única.

                Secret of Mana não possui uma história tão profunda, mas sua narrativa é tão carismática que nos convence, ao término do jogo e enquanto recordamos todo o passado, de ser uma experiência inesquecível. Eu, infelizmente, não tive acesso a este jogo enquanto criança, mas consigo imaginar claramente o quanto essa série poderia me influenciar positivamente no estilo de jogo.

                Algumas ressalvas precisam ser ditas, entretanto. Secret of Mana sofre com uma jogabilidade ultrapassada. Possivelmente um jogador contemporâneo vai se reclamar muito até conseguir se adaptar à jogatina, porém, após dominar tudo, inclusive os bugs do jogo, é possível usar estes como brecha para garantir algumas vitórias. O jogo também possui uma quantidade observável de bugs referentes ao combate, uma redução na taxa de FPS em alguns momentos do jogo que podem incomodar, porém, nada demais para alguém que já está acostumado com jogos retrô. Além disso, existem outras duas características complicadas: primeiramente a obrigatoriedade de fazer grinds, não só pra upar o nível do personagem, mas principalmente para garantir nível de perícia com armamentos diferentes e com as magias do elementais (é bem possível que o jogador precisa resguardar um tempo de horas apenas para fortalecer seu time) e, em segundo, a limitação exagerada de números de itens consumíveis que se pode carregar (apenas 4). Embora eu não veja problema em certas limitações (até para ser condizente com a carga possível que um personagem pode carregar), a limitação de itens em Secret of Mana é claramente um aspecto criado para dificultar drasticamente o jogo.

Há um remake de Secret of Mana que transforma os personagens em modelos 3D. Ele não é muito famoso e chegou a ser alvo de críticas dos fãs mais assíduos.

                Secret of Mana é pura nostalgia, bem provável que mesmo aqueles que não zeraram na infância (tipo, eu), ainda consigam absorver deste jogo os elementos mágicos que fazem com que todo RPG retrô se torne inesquecível. Tenho certeza que o final do jogo irá te impactar.

 

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