Rule
of Rose é mais um dos survival horror da época do PS2 que o jogador controla
uma personagem indefesa. Não que esse tipo de jogo não tenha tido espaço em
outras gerações (me lembro de jogar o tão esquisito Clock Tower no Super
Nintendo e algumas versões bem datadas de Fatal Frame, outra franquia que vale
um espaço só para comentar), mas, a meu ver, o PS2 elevou o contexto desse
gênero totalmente nichado (como o exemplo de Rule of Rose também temos Haunting
Ground, Siren, Ju On, The Grudge, Fatal Frame e Outlast... muitos, né?).
Em Silent Hill, Resident Evil (os
mais antigos, obviamente) e até a duologia Obscure, mesmo que nada
efetivamente, seu personagem ainda é capaz de lidar com a situação gastando
munições de armas de fogo ou mesmo improvisando um bastão como arma principal,
porém, em Rule of Rose a fragilidade da personagem é tamanha que, a maioria das
vezes, a única escolha que você tem é a de fugir, encontrar um caminho para
evitar ser inevitavelmente aniquilado pelo inimigo sem chances de vencê-lo num
confronto físico. O combate em Rule of Rose é propositalmente ineficaz e isso expande
o conceito de terror, pois notamos que fazer escolhas inteligentes e não se
deixar ser encurralado é vital.
A
trama se passa num orfanato na Inglaterra, na década de 1930 e o jogador
controla Jennifer, uma garota que é alvo constante de bullyings impiedosos feitos
por um grupo de garotinhas endemoniadas que se denominam Red Crayon Aristocrats
(as aristocratas do giz de cera vermelho). A panelinha de meninas perversas é
organizada a ponto de possuir hierarquia e, aparentemente, Jennifer foi
automaticamente colocada no escalão mais baixo da ordem.
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A medonha sociedade das Aristocratas do Giz de Cera Vermelho. |
Como dito: bullyings impiedosos e, acrescento, nojentos. |
Enquanto a protagonista sobrevive
a cenas de judiação e estratagemas sádicos das aristocratas, ela descobre
motivações obscuras atrás da existência do orfanato. Aparições fantasmagóricas
passam a ser frequentes e a própria sanidade de Jeniffer é contestada... por
sorte ela encontra um companheiro que praticamente resolve a parada toda pra
ela: um obediente cãozinho labrador retriever chamado Brown, que em algum
momento se torna aliado em jogo quando a própria protagonista o salva de um fim
nas mãos da ordem obscura.
De
início, o jogo é um labirinto e vai ser necessário que o jogador tenha
paciência para explorar o lugar (com opções limitadíssimas) e entender qual o
próximo passo a ser seguido (fiquei perdido bastante tempo e, confesso, foi bem
frustrante). Sabemos que não podemos sair de fato do orfanato e que o jogo mostra,
nesse momento, como o jogador vai se sentir frágil e encurralado pelo resto da
trama.
Felizmente, ficar perdido em Rule
of Rose se torna menos frequente quando adotamos o cachorro como aliado. Brown
é capaz de atrasar inimigos, mas não de fato atacá-los (cão que ladra, não
morde), entretanto, com certeza, sua melhor tarefa é a de farejar. É através do
focinho de seu cachorro que Jennifer tanto consegue encontrar caminho, quanto coisas
perdidas (docinhos, principalmente... que é uma espécie de revitalizante no
jogo... e tente coletar tudo que puder, vai precisar). A capacidade de Brown
localizar itens se torna parte crucial de Rule of Rose (existe um sistema que
permite que o jogador atribua um item a ser farejado e o cachorro o levará ao
mais próximo) e Jennifer apenas prosseguirá na trama ao dominar isso.
Para
sobreviver na mansão assombrada, a protagonista deve se apaziguar com as aristocratas,
numa espécie de joguinho de intrigas que é alimentado por presentes, sadismo e
inveja. No decorrer do jogo, vão sendo entregues cinemáticas que vinculam o
passado de Jennifer ao do orfanato e até a existência de Brown como seu companheiro
não é mera coincidência.
Rule of Rose é um jogo de terror psicológico com trama emendada e que deixa o jogador ansiando por mais respostas. Aos poucos, a história de fantasma ganha proporções surpreendentes envolvendo reencarnação e até um culto. Se o jogador resiste às primeiras horas do jogo, fica difícil largá-lo e abandonar as interrogações provocadas pelo enredo.
O tipo mais comum de inimigos: crianças horrendas num orfanato. Isso mostra apenas o raso sobre o lugar que você explora em Rule of Rose. |
Nota pessoal: 8/10
Duração: 10h+
% Repeteco: 25%
% Recomendação: 50%
Originalidade: comum
Público: quem curte o gênero survival horror; jogadores influenciados pelos conceitos de arte de Tim Burton ou Guillermo del Toro; quem não se importa com ação e agilidade de jogabilidade.