Okami

                Se é para encontrar uma palavra que define Okami, eu diria “único”. Não há como não se encantar com o estilo artístico desse jogo. Usando escalas de cell shading (sombra de traços, muito comum em jogos japoneses que desejam representar personagens como figuras de anime e mangá), Okami é um desenho a tinta e óleo pincelado em papel arroz com uma animação genialmente detalhada. Seu estilo artístico se inspira na arte japonesa e esse conceito, inclusive, se estende para a jogabilidade do game.

Foi bater os olhos em Okami e descobrir que este seria um jogo que eu certamente iria querer zerar. Eu me lembro de ter ouvido reviews na época fazendo uma comparação com os jogos de Zelda e isso me agradou muito (como fã da série do Shigeru Miyamoto), porém, ao finalizar Okami, receio ter que discordar dessa assimilação. Por mais que assemelhe em características (assim como a maioria dos jogos adventure) Okami é um jogo próprio, visualmente e mecanicamente falando, a comparação com The Legend of Zelda se reserva muito ao fator exploração de um mapa delimitado (sandbox) e, talvez, forçando um pouco, ao ter que usar poderes recém adquiridos para abrir caminho.

Uma pintura à tinta óleo. O design de Okami é único. Difícil encontrar algo parecido.

                Quando o combate começa, a tela fecha em um raio de ação, limitando o combate a um espaço. Os inimigos, baseados na mitologia japonesas, possuem um padrão de ataque e nossa protagonista loba usa um tipo de artefato mágico para atacar (às vezes espadas, às vezes um tipo de rosário de energia) golpeia ativamente, como em um hack’n Slash, ou usa os poderes de um pincel divino para vulnerabilizar os inimigos.

A escolha de usar a mecânica de um pincel divino poderia atrapalhar bastante, mas desenhar as formas exigidas para invocar poderes através dos analógicos do controle se mostra uma opção que, curiosamente, é mais ágil e eficaz do que uma tela de seleção de skills, por exemplo. Você segura um botão e a tela fica livre para que o jogador desenhe. Um risco rápido simula um corte, um ponto no meio da tela encharca inimigos de tinta, ao desenhar um círculo é possível invocar uma bomba e tudo isso, somado a outros desenhos específicos, invoca efeitos tanto em combate como fora dele.

                Okami se passa no Japão antigo e a história começa a uma centena de anos atrás do momento habitual do jogo. No passado, um lobo branco auxiliou Nagi, um lendário guerreiro, a derrotar Orochi, a serpente de oito cabeças, selando a criatura e salvando o vilarejo de Kamiki. Cem anos após, um guerreiro chamado Susano, descendente do próprio Nagi, acidentalmente rompe o selo de Orochi e a escuridão do deus das trevas cai sobre a terra novamente.

O combate contra Orochi e cada uma das suas oito cabeças vai ficar na sua mente pra sempre.

Para deter Orochi, Amaterasu reencarna novamente na forma de um lobo e tenta, com a ajuda dos poderes de outros deuses, representados pelos animais do zodíaco oriental, dar um fim à serpente de oito cabeças. Infelizmente, a profecia revela que apenas um herói tem capacidade de fazer isso, o atrapalhado e acidental descendente do próprio Nagi, Susano, um guerreiro preguiçoso, covarde e sem motivação nenhuma a não ser a de achar que seu sangue lhe proverá força.

A missão de Amaterasu se torna mais complexa, pois ela deve inspirar os feitos desse guerreiro ao mesmo tempo que tenta dissipar a presença escura de Orochi do mundo, despertando a natureza protetora de uma região. Amaterasu, então, desenha novos frutos em árvores de cerejeira sagradas e expurga mesmo que temporariamente a influência desse mal enquanto encontra um jeito de selar o inimigo novamente.

Todas as vezes que uma árvore de cerejeira é restaurada, uma animação florida e estonteante avassala a região com pétalas e vida e torna possível que o próprio protagonista explore a região exorcizada.



                Durante a jornada, Amaterasu também restaura constelações. Em determinados pontos do jogo, onde o céu pode ser bem-visto, o jogador é capaz de desenhar novas estrelas para concluir constelações e invocar a dádiva de outros deuses (todos representados por animais, assim como Amaterasu possui a forma de lobo) e cada uma dessas dádivas garante um poder especial para o pincel divino. Dentre as possibilidades está a de fazer o sol nascer, restaurar estruturas obstruídas, convocar uma rajada de vento, invocar explosões de bomba ou cortar obstáculos no meio do caminho. Para ativar essas dádivas é preciso pintar a tela com formas específicas, por exemplo, é possível desenhar um círculo no céu para fazer nascer o sol ou desenhar um redemoinho (uma espiral) para convocar uma rajada súbita de vento.

Esses poderes são essenciais para a composição do jogo e eles são usados de forma bastante inventiva e muito única de Okami. Podemos, por exemplo, mudar o fluxo da água fazendo ela jorrar para uma direção diferente ao traçar um novo caminho para ela ou riscar um traço interligando as nuvens até um ponto de para-raios para conduzir um relâmpago para a terra.

A luta contra Orochi (que ocorre mais de uma vez), por exemplo, é um combate onde todos esses poderes do pincel divino devem ser usados e é o jogador quem descobrirá durante a luta. Essa possibilidade dá um charme à Okami e, como dito antes, uma sensação ímpar de jogar um game que você não encontrará experiência parecida.

                É incomum existir tantos acertos em um jogo. Em The Legend of Zelda, por exemplo, especialmente nos jogos mais antigos, se perder e procurar seu próximo caminho é uma rotina, mas eu não senti isso em Okami, por mais que exista muitos caminhos a explorar. Okami se torna um jogo mais linear nesse aspecto (isso, na verdade, me agrada muito).

                Há um brilho intenso nesse jogo. Seu traço exagerado, personagens cômicos, às vezes com cabeças ou narizes enormes, às vezes com expressões faciais exageradas, dá um ar cômico interessante, mas não atrapalha a sensação de épico que ele possui.

É com certeza um jogo cativante, fácil de relembrar mesmo após ter jogado a bastante tempo, inclusive essa foi minha experiência agora, redigindo esse texto e me recordando de cenas que ficaram impregnadas para sempre em minha mente.

Nota pessoal: 9/10
Duração: 35h+
% Repeteco: 75%  
% Recomendação: 100%
Originalidade: rara
Público: público que gosta de adventures como os jogos da saga The Legend of Zelda; curiosos que apreciam estilo artístico em jogos;  





Postagem Anterior Próxima Postagem