Confesso
que são poucas as obras de ficção científica que conseguem me chamar atenção
hoje em dia. Isso não se resume à jogos, mas também à filmes e literatura. Como
aprendi nos poucos anos do curso de Letras, a arte influencia tudo e a escolha
de zerar o jogo citado foi totalmente influenciada por uma época em que eu começava
a desbravar leituras mestras desse gênero como Laranja Mecânica de Anthony
Burgess, Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, e claro, a série Fundação de Isaac
Asimov e 2001: Uma odisseia no espaço, de Arthur C. Clarke.
Assim, misturando um gênero que há muito me agrada (o terror) e a curiosidade de ver mais sobre esses clássicos distópicos, Dead Space acabou se tornando uma exceção à regra que conseguiu me prender até a última gota.
Estamos
no século 26, os recursos da Terra se esgotaram e a única maneira de sobreviver
é explorando outros planetas (praticamente o prelúdio de A Fundação). Uma
empresa de mineração espacial, responsável pela construção da colossal USG
Ishimura, a maior espaçonave até então criada, é recrutada para explorar o
planeta Aegis VII cuja sonda identificou um artefato misterioso. Infelizmente,
o contato com a espaçonave é encerrado assim que esta pousa no solo do planeta.
Controlamos,
então, Isaac Clarke (referência a Isaac Asimov e Arthur C. Clarke), um
engenheiro que junto a uma tripulação de especialistas, pretende averiguar o
acontecido com a espaçonave. Pouquíssimo tempo de jogo após conhecermos o
protagonista, logo descobrimos que a tripulação de USG Ishimura foi massacrada
e o que quer que tenha feito isso, agora também se tornou um problema para
Isaac.
Dead
Space se passa em 12 capítulos extensos onde controlamos este engenheiro na sua
corrida para sobreviver e corrigir erros ou interferências na nave para salvar
a tripulação, porém, muito mais mistérios rondam a existência da USG Ishimura e
as terríveis e dantescas figuras bizarras que enxameiam a nave.
A jogabilidade de Dead Space é o
que se deve esperar de um jogo de ação e terror: muito parecida com Resident
Evil e isso está longe de ser uma crítica, já que cabe perfeitamente com as funções
do jogo. Você segura um botão para mirar, outro para atirar e administra atalhos
para colocar seus medicamentos, tanques de oxigênio, armas e o extasis (um tipo
de energia capaz de desacelerar movimentos, essencial para conclusão do jogo).
Diferente
dos clássicos zumbis onde disparar na cabeça é sempre efetivo, em Dead Space a
maior efetividade está em desmembrar os inimigos. As criaturas alienígenas são
restos de carne retorcidos, ossos protuberantes afiados e membros extras letais
como um ferrão. Estar frente a frente a uma delas sem nenhum preparo é morte
certa, mesmo se seus pontos de vida estiverem acima da média.
Assim, o jogo nos apresenta a
primeira e, julgo, a mais importante das armas do jogo: o plasma cutter
(cortadora de plasma), longe de ser a arma mais apelativa, afinal ela é mais um
instrumento cirúrgico do que uma arma, porém necessária em muitos aspectos. Alternando
entre tiros verticais e horizontais, o jogador mira nos membros letais da
criatura para desmembrá-la. É possível cortar as pernas e fazer os monstros se
arrastarem (em alguns inimigos essa é uma péssima escolha), romper os tendões
dos braços para evitar ser mutilado por foices ósseas ou cortar tentáculos.
Porém, o arsenal não se limita a
isso e conseguimos versões de armas que, diferente de muitos games de tiro,
alternam bastante o estilo de jogo. Existe, por exemplo, uma estripadora
(ripper) que se trata de uma motosserra capaz de disparar lâminas cortantes ou
serrar inimigos corpo a corpo (bastante eficaz em combates de curta distância),
um lança chamas ideal para inimigos menores que se espalham pela tela e
tornam-se difíceis de serem achados ou mirados, ou o tiro de contato (contact
beam) que trata-se de uma rajada de energia constante capaz de arrancar
bastante dano por segundo caso o jogador consiga manter a mira
Dead
Space é o tipo de jogo que você precisa economizar munição e explorar o máximo
que puder para ter seu estoque de utilitários sempre em segura quantidade. Além
das armas também temos à disposição o controle telecinético, podemos, por
exemplo, usar objetos ou partes de estruturas e lançá-las contra inimigos (embora
esse tipo de estratégia seja apenas secundária) e o extasis, a energia que
quando disparada deixa uma área sob os efeitos de lentidão e facilita em
situações cuja quantidade absurda de inimigos começa a aparecer de todos os
lugares.
Alguns
momentos do jogo se passam fora da nave e o jogador precisará usar tanques de
oxigênio, além de turbinas gravitacionais que permitem o voo em lugares
específicos (onde a gravidade é zerada). Os combates mais estressantes envolvem
a gravidade zero, movimento de esquiva e muita pressa.
Outros
elementos interessantes do jogo são os módulos e as bancadas. Espalhados pela
nave estão objetos identificados como módulos (modules) que podem ser aplicados
à sua armadura ou a uma de suas armas quando você encontra uma bancada. Isso
lembra bastante a distribuição de pontos em árvores de skills baseadas em RPG
diversos (como a sphere grid de Final Fantasy 10). Essa árvore de skills é
ampliada conforme você dropa ou compra atualizações de suas armas ou armadura,
garantindo mais espaços para distribuir módulos.
É interessante observar quando
evoluímos a tecnologia da armadura, o número de placas de proteção que ela
adere ao visual ou a amostragem do contador de pontos de vida (localizado na
espinha dorsal da vestimenta).
Dead
Space é um jogo de caráter linear. Cada missão determina bem o seu caminho (ao
segurar um dos analógicos é possível rastrear seu próximo passo) e, por isso,
dificilmente você ficará perdido procurando pelo próximo passo. O game nos joga
em situações surpresa diversas vezes e exige constantemente rápida adaptação à
situação ou a morte nos alcança em segundos (estar bem-posicionado ou manter
uma distância equilibrada normalmente funciona).
Em alguns momentos, Isaac Clarke
terá de lidar com criaturas que ocupam o espaço inteiro da tela e esses
combates são impressionantes, funcionam muito bem e possuem desfechos bastante
satisfatórios (!) Não é surpresa nenhuma que, em jogos de tiro, a precisão na
mira é essencial, porém, mirar em pontos específicos e distantes no meio de uma
guerra aparentemente fica bem mais fácil com um mouse à sua disposição (poucas
vezes eu precisei mexer na sensibilidade do controle para concluir um jogo).
Nota pessoal: 8/10
Duração: 18h+
% Repeteco: 40%
% Recomendação: 75%
Originalidade: comum
Público: apreciadores de survival horrors que curtem mais ação; se você gosta mais de Resident Evil 4 do que o 2, boas chances de gostar bastante Dead Space;