Um Retrô: Chrono Trigger

 


                Em 1986, a Enix Corporation criava a série mais influente do mundo dos RPGs (e que mais tarde, devido a inúmera quantidade diversa de jogos do gênero, seria categorizada como o subgênero JRPG) e dava a esta o nome de Dragon Quest (Dragon Warrior, no ocidente). O objetivo era simples, porém, genial e anormal para a época: na pele de um herói, num mundo pixelado visto de cima, seu protagonista falava com NPCs e concluía missões, treinava e ficava mais forte para enfrentar o próximo desafio.

Atualmente, Dragon Quest está em seu 11º volume (lançado para todas as plataformas) e continua sendo uma febre no Japão, lugar que sempre teve destaque (sempre que há lançamento de um jogo principal da franquia, as vendas se esgotam nos primeiros dias). O tamanho de Dragon Quest no oriente é grandioso e influente. Os monstros do jogo se tornaram parte da cultura e é comum vê-los estampados em cartazes, propagandas ou mesmo embalagens de comida; tal qual miojo da turma da Mônica). Dragon Quest iria influenciar todo o resto (inclusive Pokémon) e, por bem, se tornou uma lenda na história dos videogames. Seus jogos são conhecidos por manterem a essência mesmo dos mais antigos, modernizando a pinceladas criteriosas e afagando o coração dos mais nostálgicos.

Do outro lado existia a Square Soft. Uma empresa à beira da falência, frustrada com os números de seus últimos lançamentos, tendo em mãos apenas uma chance final para concretizar seu sonho de se tornar influente no mundo gamer. Até que alguém de lá deu um toque: “Olha, essa é a nossa última chance... vocês já ouviram falar desse jogo que está fazendo muito sucesso? Se chama Dragon Quest. Que tal se a gente aproveitar os moldes e planejar alguma coisa parecida?”, assim nascia a aclamada série Final Fantasy, atualmente em seu 16º volume.

                Pelos anos seguintes, as empresas foram se modernizando. A Enix agradando seu fiel público do oriente, incrementando sua base de fãs com mais do que apenas os jogos. A Square apostando num outro mercado: o ocidente, mesmo vendo sua rival fracassar na tentativa de trazê-los para américa. Foi um processo demorado, pois, claramente o gosto pessoal de jogadores ocidentais se divergem bastante dos orientais (até os dias de hoje essa divergência é clara). Isso somada a uma estratégia de marketing medonha (chegaram a trazer Final Fantasy: Mystic Quest para o ocidente com a propaganda inventiva que declarava que esse tipo de jogo era desafiador e feito para jogadores inteligentes ... ... se bem que... ah não, deixa pra lá rsrs), ajudaram a atrasar o reconhecimento desse tipo de jogo por nossas bandas.

A afrontosa propaganda de Final Fantasy Mystic Quest


                O subgênero ganhou força no Super Nintendo (Earthbound, Breath of Fire, Super Mario RPG) e Megadrive (Phantasy Star 4, Shining Force) e explodiu ganhando dimensões inalcançáveis (Final Fantasy VII, Grandia, Parasite Eve, Suikoden, Legend of Legaia, Xenogears, Chrono Cross, Wild Arms, Vagrant Story). Outras empresas adotaram o gênero, fizeram sucesso, mas nada que pudesse alcançar o resultado das progenitoras.

                Nesse meio tempo nasceu uma obra-prima que dificilmente algum jogador, mesmo detestando o gênero, nunca ouviu falar: Chrono Trigger. Um jogo impossível de não ser lembrado em qualquer top favoritos da vida de um player que vivenciou a experiência única e especial de ver aquilo na época ou mesmo para aqueles que se surpreenderam ao jogar o jogo como quem testa um retrogame e se deparou com uma das poucas experiências que envelheceram tão bem como vinho.

Falar que na época Chrono Trigger provocou tamanho alvoroço, não é nada exagerado, assim como não é exagero afirmar que este jogo se mantém como um dos melhores jogos já lançados pela indústria, mesmo após tanto tempo.  

Uma das cenas mais clássicas de campfire dos videogames

Poucas alianças no mundo dos games foi tão forte e inesperada quanto a equipe responsável por desenvolver Chrono Trigger, em 1995, antes mesmo da Square Soft e a Enix Corporation se tornarem uma só: a Square Enix, em 2003 (entenderam como foi importante contar a história da Enix e da Square?). Apelidada de “a equipe dos sonhos”, o time era formado por Hironobu Sakaguchi (produtor da série Final Fantasy), Yuji Horii (diretor da série Dragon Quest), Akira Toriyama (ele mesmo, o criador de Dragon Ball e ilustrador oficial da série Dragon Quest) e Nobuo Uematsu (músico de Final Fantasy, e pra quem não sabe, Final Fantasy é uma das franquias mais premiadas no quesito trilha sonora até os dias de hoje, vide Final Fantasy 16).

Toda a equipe trabalhou com a ideia de que esse jogo deveria ser revolucionário, que teria múltiplos finais, uma história dramática acima da média, um sistema de batalhas aprimorado e divertido e gráficos alinhados com o que melhor poderiam conseguir na época. Eles conseguiram tudo isso e um espaço eterno no mundo dos gamers.

Alguns encontros são emboscadas. Melhor estar atento para não ser surpreendido.


Chrono Trigger possui a jogabilidade de um RPG por turnos padrão com diversas inovações (leva-se em conta a época e o quão ele foi influente para os demais jogos do gênero). Até hoje ouvimos falar do “sucessor espiritual” de Chrono Trigger que nunca satisfaz a legião de fãs (embora sejam jogos ótimos como Sea of Star e Chained Echoes... as pessoas deveriam parar de vender essa propaganda, na verdade). Você controla o protagonista, Chrono, e seus companheiros (máximo de três personagens) num mundo de fantasia, composto por elementos típicos (florestas, cavernas, cidades, encontros aleatórios com monstros, magia e itens mágicos).

Diferente dos JRPG tradicionais da época, Chrono Trigger traz encontros aleatórios visíveis, sendo possível (na maioria das vezes) tentar desviar destes quando a situação ficar perigosa. Entretanto, o que acho mais inovador (e me surpreendo com o número pequeno de jogos de hoje em dia que não aderiram a mesma configuração) e o que provavelmente vai agradar BASTANTE os jogadores das novas gerações é que o combate ocorre no próprio mapa, ao invés de apresentar uma nova tela detalhando o monstro e o background do cenário, mas de uma forma que difere de jogos táticos.

Basicamente, o personagem e seu grupo topam com um encontro aleatório, a música de batalha começa, a equipe e os monstros se posicionam e então uma barra de tempo para ação (ATB) começa a rolar e esta determina a iniciativa e a próxima rodada que o personagem ou monstro irá atacar. Esse sistema causa uma imersão ilusória de ação que torna cada combate vivo e pouco repetitivo.

Esta cena do julgamento pega muita gente de surpresa. Estavam te vigiando desde sempre...

Conforme a jogatina avança e os personagens sobem de nível e adquirem novas skills, eles também aderem à poderes de sinergia que são vislumbrantes e, talvez, a melhor parte do sistema de combate. Você pode, por exemplo, aguardar a barra ATB de dois personagens serem preenchidas para usar um ataque especial em conjunto, por exemplo, Chrono pode usar seu poder especial de girar como um tornado e atingir vários inimigos, enquanto Luka dispara um lança chamas para criar um furacão de chamas que atinge vários inimigos com o elemento fogo.

                Chrono Trigger tem, no total, sete personagens jogáveis, porém, nem todos são obrigatoriamente recrutáveis, na verdade existe até personagem que se você não tomar a decisão certa, você perderá a chance de tê-lo na sua equipe para sempre. O jogo começa com Chrono, o protagonista de cabelos espetados como um saiyajin, Marle, uma garota misteriosa que cria amizade com o protagonista muito facilmente e é estopim para toda a jornada, e Lucca, uma inventora e mecânica genial cuja última invenção é tentar criar uma máquina do tempo.

                Após um intervalo agradável no festival da cidade, um acidente ocorre e Marle é transportada pelo espaço e tempo pela invenção de Lucca. Chrono, o destemido herói, portanto, se envolve na mesma viagem em busca de salvar a nova “amiga”. Chrono Trigger é um jogo sobre viagem no tempo, sobre visitas à diferentes eras da humanidade. É apenas ao buscar Marle nesse curso de tempo, que nossa equipe descobre que o fim do mundo irá ocorrer e que apenas mudando o passado será possível curar o futuro, porém, alcançar essa conquista envolverá todos em recorrentes viagens de ida e volta para passados distantes (a pré-história) ou futuros longínquos (o próprio mundo devastado após o fim) e a forja de alianças com indivíduos peculiares de cada temporada (uma garota das cavernas e um robô enferrujado, por exemplo).

                Alguns personagens, como o Frog, um homem-sapo paladino e Magus, um poderoso conjurador com tendências vilânicas, são atípicos e fazem com que a equipe de Chrono Trigger seja inesquecível pela sua excentricidade.

Chrono Trigger é frequentemente listado entre os 100 melhores jogos de todos os tempos em revistas de crítica especializada e curiosamente recebeu poucos ports para as futuras gerações (talvez por isso muitos implorem por um remake). Ele foi lançado para Super Nintendo, originalmente. Relançado para o PS1 num pacote chamado Final Fantasy Chronicles (que inclui Chrono Trigger e Final Fantasy 4 juntos... porque justamente o FF4, não sei, mas curiosamente, é justamente esses dois jogos juntos que me fizeram ser apaixonado por RPG no geral, embora nenhum deles eu tenha zerado no PS1), depois para o Nintendo DS, onde ele recebeu revisão definitiva e foram incluídas melhorias na narrativa, masmorras extras e um final extra (que o une à Chrono Cross, o distante sucessor), e por fim, para celulares e PC (que usaram a base do Nintendo DS).

13 finais diferentes


                Existem, no total, 12 finais distintos para o jogo (13, se contar o extra da versão do DS). Isso foi um feito para uma época em que finais diferentes ou não existiam ou eram escassos. Existe caminhos na jornada em que podemos simplesmente perder o próprio protagonista para sempre e zerar sem ele no grupo (muitíssimo não indicado, já que Chrono é um dos personagens mais carismáticos).

                Chrono Trigger é um dos jogos que retorno incessantemente a cada “nova temporada” da minha vida e me vejo cada vez mais encantado com sua existência. Há fãs que rejeitam a possibilidade de um remake com o receio de tocar e “estragar” a obra-prima, há outros (meu caso) que anseiam que as suspeitas de que um remake HD-2D (como o acontecido com Dragon Quest recentemente) esteja sendo feito. Enquanto isso, a Square Enix e outras empresas nos privilegiam com uma enorme quantidade de jogos inspirados em uma das maiores obras-primas dos videogames. 

Obrigatório.

Nota pessoal: 10/10
Duração: 23h+
% Repeteco: 99%  
% Recomendação: 99%
Originalidade: rara
Público: boa chance de ser o ponto de partida para JRPG; quem gosta de anime e mangá; fãs de Akira Toriyama; quem curte as sagas Dragon Quest e Final Fantasy.


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